O impacto do
financiamento na viabilidade do projeto pode ser medido através do ajustamento
da taxa de atualização utilizada no desconto dos cash-flows gerados para o
cálculo do VAL.
Geralmente, o ajustamento traduz-se numa redução da taxa,
por forma a refletir o benefício fiscal e/ou o financiamento do endividamento.
O custo médio ponderado do capital e o custo marginal do
capital poderão ser utilizados como taxas de atualização ajustada.
Outra alternativa
consiste na função do valor atual da decisão económica ao valor atual de
financiamento, ou seja, poderá recorrer-se ao método do valor atual líquido
ajustado da decisão de investimento.
Principais métodos de interação das decisões
económicas e financeiras do investimento:
- Custo médio ponderado do capital (CMPC),
- Custo marginal do capital (CMC),
- Valor atual líquido ajustado da decisão de investimento
(VALA).
De acordo com este método, o custo de capital de uma
empresa ou projeto é a média ponderada do custo de capital próprio e do custo
do capital alheio corrigido do efeito fiscal.
O custo do capital após imposto é:
CMPC = Rcp x
CP / D + CP + rd (1-t) x D / D + CP
Rcp = Custo nominal
do capital próprio
rd = Custo nominal
do capital alheio
CP = Valor nominal
do capital próprio
D = Valor nominal
do capital alheio
t = Taxa de
imposto sobre lucros
Os custos e os
valores das fontes de financiamento devem ser registados a valores de mercado.
Não obstante, utilizam-se com frequência os valores
contabilísticos, uma vez que os valores de mercado raramente se encontram
disponíveis.
Em Portugal as empresas cotadas são escassas, o que torna
difícil conhecer o valor de mercado do capital próprio.
As dívidas das empresas excecionalmente estão
representadas por títulos transacionáveis.
O cálculo do custo
das fontes de financiamento são efetuados da seguinte forma:
a) Custo
do Capital Próprio:
O CP não apresenta um custo explícito, um custo
estabelecido contratualmente.
O CP possui um susto implícito que se traduz no
rendimento mínimo exigido pelos acionistas.
O CP, ou a remuneração exigida pelos acionistas, depende
do risco de mercado associado à atividade, sendo no entanto, necessariamente
superior à remuneração da melhor aplicação alternativa isenta de risco: a
remuneração de títulos de tesouro, que é o padrão mais usado para este efeito.
Do ponto de vista
da empresa, o CP representa em custo mais elevado que o capital alheio por três
razões:
- O capital alheio assume prioridade na captação dos
excedentes gerados pela empresa,
- A remuneração do capital alheio (juros) é aceite como
um custo para efeitos fiscais, reduzindo a carga fiscal da empresa e, por
consequência, o custo efetivo do capital alheio,
- A existência de dívida na estrutura do capital aumenta a
volatilidade dos recursos esperados.
No cálculo do custo de CP, será de considerar o custo de
oportunidade associado ao valor temporal do dinheiro (taxa de juro sem risco),
o prémio de risco financeiro para compensar o risco induzido pelo endividamento
(caso exista) e o prémio de risco económico associado à variabilidade dos
resultados de exploração.
Como estimar o
custo do Capital Próprio – Métodos:
Método 1:
Rcp =
((1+t1) x (1+t2) x (1+t3)) – 1
t1 = Remuneração real sem risco desejada para o CP
t2 = Risco económico e financeiro do projeto
t3 = Taxa anual média e inflação esperada
Se a avaliação do projeto for efetuada utilizando a
metodologia dos preços constantes (sem inflação), a t3 não será considerada na
expressão
Método 2:
Recorrendo à teoria de Modigliani e Miller (1958 e 1963)
e ao CAPM:
Para avaliar o custo do CP do projeto pode adotar-se uma
metodologia que envolve as seguintes etapas:
1ª – Consultar a rendibilidade das ações da empresa onde
se insere o projeto, caso esta estiver cotada em bolsa (caso se trate de um
projeto cujo perfil de risco é idêntico ao da empresa que o implementará) ou a
rendibilidade média das ações de um conjunto de empresas representativas do
setor de atividade.
Ou, ainda, de uma empresa de risco semelhante ao do
projeto (caso se trate se um projeto cujo perfil é diferente do da empresa que
o receberá ou de um projeto inserido numa empresa não cotada em bolsa) a partir
do parâmetro beta subjacente e da seguinte expressão do CAPM:
Rcp = Rf + (Rm – Rf) Bcp
Rcp = Taxa de
rendibilidade do CP
Rf = Taxa de juro
isenta de risco
Rm = Taxa de juro
que traduz o rendimento esperado de todos os títulos do mercado
Bcp = Risco sistemático da empresa (B = beta)
(Rm – Rf) = Prémio
de risco do mercado
2ª – Encontrar a rendabilidade do capital próprio, sem o
efeito da dívida:
A partir da rendabilidade encontrada (que inclui o efeito
do endividamento) e da estrutura e custo de capital que lhe está subjacente,
deve-se, de acordo com as alterações produzidas no CAPM por Modigliani e Miller
(proposição II com impostos), encontrar a rendibilidade subjacente do capital
próprio, sem efeito da dívida (ru), conforme:
Rcp = ru + (ru – rd) x D / CP x (1-t)
Rcp = Taxa de rendabilidade
do capital próprio da empresa endividada
ru = Taxa de rendibilidade
do CP da empresa sem dívidas (incógnita)
D = Capital
alheio / dívida
CP = Capital
próprio
rd = Taxa de juro
da dívida
t = Taxa de
imposto sobre lucros
3ª – Reestimar a rendibilidade exigida
Reestimar a rendibilidade exigida pelo capital próprio
investido no projeto, considerando o seu nível de endividamento e a
rendibilidade do capital próprio numa situação sem endividamento (ru), através
da mesma expressão, passando agora a ser Rcp a incógnita,
Rcp = ru + (ru
– rd) x D / Cp x (1-t)
Rcp = Taxa de
rendabilidade do capital próprio da empresa endividada (incógnita)
ru = Taxa de
rendibilidade do CP da empresa sem dívidas
D = Capital
alheio / dívida
CP = Capital
próprio
rd = Taxa de juro
da dívida
t = Taxa de
imposto sobre lucros
b) Custo
do Capital Alheio
No cálculo do CA devem ser considerados o custo nominal
de cada fonte de financiamento e os respetivos custos explícito e implícitos.
Os custos
explícitos refletem os custos de comissão de garantia, comissões de
intervenção, etc.
Os custos
explícitos reportam-se, por exemplo, à perda de desconto financeiro pelo
fato da empresa não pagar a pronto pagamento.
O crédito de fornecedores é um tipo de crédito obtido
pelas empresas, geralmente como característica normal das transações comerciais
e diretamente proporcional ao volume de negócios.
Aparentemente, o crédito não titulado de fornecedores tem
custo nulo. No entanto, incorre num custo implícito dado que o pronto pagamento
está perfeitamente generalizado.
Quando a empresa liquida as suas aquisições a prazo
suporta um custo de oportunidade.
Explo:
Admitindo que a empresa tem que optar entre duas formas
de pagamento: a 10 dias da data da fatura com 1% de desconto ou a 60 dias sem
desconto. Qual a melhor solução que garante um menor custo de oportunidade?
A taxa anual equivalente em regime de juro composto é:
i =
(1+0,01)^(365/60-10) – 1 = 0,075 = 7,5%
Neste caso, a empresa deve procurar obter o desconto de
pronto pagamento, mesmo que para isso recorra a crédito de curto prazo, caso
este apresente um custo inferior à taxa anual apurada, de 7,5%.
O custo de Capital Alheio é corrigido dos efeitos fiscais
através da multiplicação do custo total do capital alheio (1-t), sendo t a taxa
anual de imposto sobre os lucros da empresa.
Como os juros
constituem uma despesa dedutível, contribuem para a redução do imposto a
liquidar e, por conseguinte, diminuem o custo líquido da dívida.
Explo:
Imposto sobre lucros (t): 30%
Qual o Custo Médio Ponderado do Capital (CMPC)?
O CMPC pode ser calculado mediante a elaboração de um
quadro ou através da aplicação da fórmula:
CAI = Custo Antes de Impostos sobre lucros da empresa
CDI = Custo Depois de Impostos sobre lucros da empresa
CMPC =
10% x (120.000 / 300.000) + 8% x (1-0,3) x (180.000/300.000) =
= 7,36%
Explo:
Uma empresa apresenta a seguinte estrutura de origem de
fundos:
- Capital próprio constituído por 125.800 ações com o
valor nominal de €5 cada e cotadas a €6 cada,
- Um empréstimo bancário a médio e longo prazo de
€120.800 cuja taxa de juro é de 5%,
- Um empréstimo bancário de curto prazo de €32.460 cuja
taxa de juro é de 8%,
- Dívidas a fornecedores de €46.740 com PMP de 60 dias.
No entanto os fornecedores concedem um desconto de 1% sobre o valor pagão até15
dias da data da fatura.
Outras informações:
- O Beta (B) das ações da empresa é 1,4,
- A taxa de rendimentos dos títulos do Estado
(investimento sem risco) é de 4%,
- A rendabilidade média do mercado acionista é de 11,5%,
- A taxa de imposto sobre lucros é de 30%.
A decisão de viabilidade global de um projeto de
investimento pode apoiar-se no CMPC, promovendo os projetos em que:
- A TIR dos novos
investimentos seja maior ou igual do que o CMPC, ou seja, a TIR dos novos
investimentos deverá, no mínimo, ser igual ao custo do capital.
- O VAL calculado
utilizando o CMPC como taxa de atualização seja maior ou igual a zero.
O CMPC como taxa de atualização no estudo da viabilidade
global traduz-se na taxa de rendabilidade mínima aceitável, dadas as condições
de financiamento do projeto.
Explo:
A empresa a pretende implementar um projeto de
investimento em capital fixo no montante de €1.000.000 com uma TIR=12%. O
projeto será financiado em 70% por capital alheio a uma taxa idêntica à da
empresa, se a sua capacidade de endividamento não for ultrapassada, o que
sucederá se o passivo exceder 55% das aplicações de fundos. O risco económico
do projeto é idêntico ao da empresa.
O projeto terá
viabilidade?
1.
Cálculo do custo do Capital Próprio da empresa
com o projeto:
Cálculo do custo do CP da empresa não endividada (ra)
Rcp = ru + (ru –
rd) x (D/Cp) x (1-t) =
14,5% = ru +
(ru – 6,28%)x (200.000/754.800) x (1-0,3) =
ru = 13,21%
Cálculo do custo do CP da empresa com o projeto (Rcp)
Rcp = ru + (ru –
rd) x (D/Cp) x (1-t) =
Rcp = 13,21% +
(13,25% - 6,28%) x (900.000/1.054.800) x (1-0,3) =
Rcp = 17,35%
2.
Cálculo do CMPC da empresa com o projeto:
CMPC = CAI CP x (CP / Total) + CAI CA x (1-t) x
(CA / Total)
= 17,35% x (€1.054.800/€1.954.800) + 6,28% x (1-0,3) x
(€900.000/€1.954.800) =
= 11,39%
O custo do Capital Alheio da empresa com o projeto é
idêntico ao da situação inicial, pois o nível de endividamento é de 46%
(€900.000/€1.954.800), valor inferior ao limite indicado.
Dado que o CMPC é
inferior ao valor da TIR do projeto, este revela-se globalmente viável.
O conceito do CMPC que chegou a ser muito popular entre
os peritos financeiros possui algumas limitações quando aplicado na avaliação
de projetos de investimento.
Devido ao efeito
fiscal e ao caráter preferencial na apropriação dos excedentes gerados pela
empresa, o custo do capital alheio é geralmente mais baixo do que o do capital
próprio.
Uma solução óbvia para aumentar o VAL de um projeto
consiste em reduzir a sua taxa de atualização.
De acordo com a fórmula do CMPC, esse resultado é
facilmente atingido com um aumento do capital alheio.
Explo:
Admitindo que um projeto de investimento de €1.000.000 é
financiado com um empréstimo de €600.000, à taxa de 6%/ano. O restante é
coberto com capitais próprios e os acionistas exigem uma remuneração de 12%.
Com uma taxa de imposto sobre os lucros de 30%, qual é o custo do capital deste
projeto?
CMPC = 12% x (€400.000/€1.000.000) + 6% x (1-0,3) x
(€600.000/€1.000.000) =
= 7,32%
Neste caso, a taxa de atualização a utilizar no cálculo
do VAL para efeito de decisão global será de 7,32%
Mas, supondo que o projeto é financiado com apenas 10% de
capital próprio e 90% de capital alheio, a taxa de atualização seria:
CPMC = 12% x (€100.000/€1.000.000) + 6% x (1-0,3) x
(€900.000/€1.000.000) =
= 4,98%
Este valor representa uma
queda superior a dois pontos percentuais da taxa do CMPC.
No entanto, este resultado
nem sempre é fácil de obter e, no caso de ser possível, o mérito não é
atribuível apenas ao projeto.
Se, se tratar de um
projeto autónomo, não inserido numa empresa já existente, a banca tenderá a
praticar uma taxa de juro mais elevada quanto menor o peso do capital próprio
do financiamento.
Tratando-se de uma empresa já existente com sólida
situação financeira, em que as restantes atividades e ativos da empresa
funcionam como garantia adicional, é possível que um novo projeto tenha uma
elevada participação de capital alheio sem que a taxa de juro seja muito
elevada.
Do ponto de vista
estritamente técnico, existem outros problemas associados ao apuramento do CMPC:
- Ao longo de um
projeto as proporções do capital próprio e do capital alheio variam, pelo que
não é correto utilizar sempre o mesmo custo de capital,
- A situação em que existem diferenças de custo de
financiamento ao longo do projeto dificulta a determinação da taxa de CMPC.
A utilização do
CMPC da empresa em vez do CMPC do projeto, como taxa de atualização no estudo
de viabilidade global do projeto, apresenta ainda outras limitações:
- Devido à escassez de elementos a valores de mercado,
geralmente este método baseia-se em elementos contabilísticos conferindo-lhe um
caráter meramente estático,
- É influenciado pela estrutura financeira da empresa,
assumindo que a estrutura do novo projeto corresponde exatamente à composição
preexistente dos capitais da empresa,
- Como o custo do capital é afetado pela inflação,
pressupõe-se a aplicação da metodologia dos preços correntes na elaboração dos
mapas de fluxo financeiros do projeto de investimento,
- Usando a metodologia dos preços constantes, os custos
de capital têm de ser deflacionados,
No entanto, pode concluir-se que o método do CMPC da
empresa aplica-se sem grandes distorções nas situações em que o projeto
apresenta um nível de risco operacional semelhante ao da empresa e reproduz a
estrutura financeira da empresa que o empreende, sendo mais rigoroso em
situações de estabilidade da estrutura financeira e das taxas de juro.